Paraguai já exporta cânhamo alimentício para os Estados Unidos

Vinicius Lobato
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Variedade de cannabis com baixos teores de THC, o cânhamo é uma cultura versátil, com aplicações em diversas indústrias, como farmacêutica, têxtil, construção civil, energia e alimentícia, entre outras. Desde que teve seu cultivo legalizado nos EUA em 2018, por meio da Farm Bill, a planta tem atraído a atenção do agronegócio ao redor do mundo, em um mercado que deve movimentar algo próximo dos 27 bilhões de dólares em 2025, segundo as projeções mais recentes. Além dos EUA, países do leste europeu e a China dominam a produção global da commoditie, mas nossos vizinhos, principalmente Colômbia, Uruguai e Paraguai, também se movimentam para conquistar seus próprios clientes mundo afora. Nesta semana, os paraguaios da empresa Healthy Grains anunciaram a venda de um carregamento com grãos inteiros, grãos dehulled (descascado), farinhas e azeites de cânhamo para um comprador na Califórnia (o nome do cliente não foi revelado).

No Brasil, o PL 399 (medicamentos com cannabis), que tramita na Câmara dos Deputados, prevê a autorização para a exploração industrial dessa variedade da erva, com cultivo liberado em território nacional. As movimentações mais recentes acerca do projeto, no entanto, não autorizam qualquer otimismo em relação à sua aprovação. Até mesmo a bancada ruralista, antes entusiasta da ideia por conta justamente de seu potencial econômico, parece ter recuado diante da reação de sua ala mais conservadora. Para Lorenzo Rolim, presidente da Associação Latino Americana de Cânhamo Industrial (LAIHA, na sigla em inglês), o Brasil vai, mais uma vez, ficar para trás nesse mercado e terá dificuldade em recuperar o terreno conquistado por quem já enxergou o seu valor. “O Paraguai deu um passo extremamente importante para a consolidação da indústria do cânhamo na região. O país conseguiu implementar, rapidamente, uma regulamentação que permitiu o desenvolvimento de empresas eficientes, como a Healthy Grains. Com isso, eles foram capazes de, já no primeiro ano, operar no mercado internacional”, afirmou ao blog.

Rolim lamenta a falta de interlocução com os legisladores brasileiros, sem a qual não consegue sequer apresentar os argumentos que poderiam fazê-los mudar de ideia a respeito do cânhamo. “Do lado de lá da fronteira, tão perto da nossa realidade, já estão operando e lucrando com essa cultura, enquanto no Brasil ainda se discute se o cânhamo é uma droga. Nós da LAIHA esperamos que a classe política brasileira se concentre nos aspectos técnicos e econômicos para tomar uma decisão racional sobre o tema, e não decidir com base em emoções e ‘achismos’. Volto a convidar os parlamentares contrários ao PL 399 para uma discussão franca e aberta, amparada em dados reais que estão sendo verificados em países próximos a nós, como o Paraguai, para auxiliar em seus processos de tomada de decisão”, conclui.

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