Inflação baixa de 2% ao ano é coisa do passado, diz Rabello de Castro

Vinicius Lobato
Por Vinicius Lobato
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O empuxo na inflação registrado nos últimos meses é o sintoma do avanço ainda mais forte esperado para 2021, influenciado pela retomada da atividade econômica, permanência do dólar alto e a transferência de custo represada pelos produtores. O avanço de 0,64% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira, 9, representa o quarto mês seguido de alta e o maior índice para o período em 17 anos. Desde janeiro, no entanto, o índice oficial da inflação brasileira acumulou alta de 1,34%%, o menor valor ao período desde o início da série histórica, e nos últimos 12 meses o avanço foi de 3,14%. Para Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do IBGE e do BNDES, a inflação na casa do 2% é coisa do passado.

Em entrevista ao site da Jovem Pan,  economista estima que o próximo ano feche com inflação de 4,5%, acima da meta de 3,75% projetado pelo Banco Central, com possível variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. “A inflação do IPCA é medido por fatores de custo e demanda, e em 2021 haverá o impulsionamento das duas curvas. Pelo lado do custo, leia-se o dólar, que já está sendo passado ao insumos industriais. No conjunto da demanda, o setor de serviços vai recompor os preços desse ano”, afirma.

A expectativa de alta é acentuada pela diferença da inflação localizada em diferentes segmentos. Enquanto produtos relacionados ao consumo, como alimentos, registram altas expressivas, itens do setor de serviço aparecem com níveis negativos na variação de preço. Esse distorção causada pela mudança de hábitos forçada pela pandemia do novo coronavírus impacta na conta do IPCA, puxando o número momentaneamente para baixo. “Para o ano que vem prevemos a inflação em 4,5%, o que é elevado para o que estava em 2%. Mas a inflação em a 2% é a média entre o ‘forno’ e a ‘geladeira’, e em 2021 não teremos mais essa ‘geladeira’ para diminuir, será um índice do passado”, afirma o economista.

O avanço do dólar ante o real também pressiona a inflação para cima. Um exemplo dessa ligação foi a disparada do arroz no último mês diante do crescimento da demanda internacional pelo alimento. Na conta também entram as commodities agrícolas, que têm os preços tabelados na moeda norte-americana e sofrem influência direta com a desvalorização do real. Além dos produtos do agronegócio, insumos da indústria, como aço e ferro, também são dolarizados. Como a precisa desembolsar mais para produzir, a tendência é que o valor seja repassado ao consumidor.

Porém, outros índices que ajudam a traduzir a inflação mostram que esse repasse não está sendo feito na totalidade. O Índice de Preços ao Produtor Amplo – Mercado (IPA-M), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e considerado a inflação ao produtor, registrou alta de 25,2% em setembro no acumulado dos últimos 12 meses. “O aumento é como uma onda se espalhando pela praia. É um efeito em cadeia, com uma sucessão de custos que não ocorre instantanêamente”, afirma Rabello de Castro.

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