Alckmin: “Política industrial, por melhor que seja, não vai resolver tudo”

Vinicius Lobato
Por Vinicius Lobato
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O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou, ontem segunda-feira (19), ao participar de um evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que o sucesso da política industrial no Brasil depende do bom ambiente macroeconômico e de fatores como a queda da taxa básica de juros (a Selic, atualmente a 11,25% ao ano), o crescimento da atividade econômica e a reforma tributária.

Alckmin foi convidado para participar da reunião de conselhos superiores da Fiesp, que também contou com a presença do presidente da entidade, Josué Gomes da Silva, e do ex-presidente da República Michel Temer (MDB), que hoje comanda o Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política (Cosenp), ligado à Fiesp. O tema do encontro foi “produtividade e taxa de investimento”.

“Nós precisamos agir nas causas dos problemas. Política industrial, por melhor que seja, não vai resolver tudo sem uma boa macroeconomia e sem redução do custo Brasil. Esse é o fato, não tem mágica”, afirmou Alckmin. “O câmbio está competitivo. Os juros são muito altos, mas estão em queda. E a reforma tributária vai ajudar, porque vai simplificar, reduzir custo, desonerar completamente investimento e exportação.”

O vice-presidente lembrou que o Brasil foi o país que registrou as maiores taxas de crescimento do mundo durante quase cinco décadas, entre os anos 1930 e 1980. “Ainda era um país mais jovem. Você teve uma migração do campo para a cidade, uma urbanização mais forte. E o Brasil ficou mais caro. Para quem vive aqui dentro, o país é caro. E é caro para exportar, a não ser produto primário”, afirmou.

“Temos de agir na causa: reduzir custo Brasil, melhorar produtividade e competitividade. E não tem bala de prata. É fazer a lição todo dia: reforma trabalhista, reforma tributária, reforma previdenciária, reforma administrativa. É preciso um conjunto de tarefas”, disse Alckmin.

Um outro ponto, segundo o vice-presidente da República, é a vigilância permanente com a inflação. “A inflação não é neutra socialmente. Ela castiga mais os mais pobres”, apontou Alckmin. “Precisamos mudar de patamar de crescimento e fazê-lo de maneira sustentável.”

Nova Indústria Brasil
Em seu pronunciamento na abertura da reunião da Fiesp, Alckmin destacou o Nova Indústria Brasil (NIB), programa lançado pelo governo federal em janeiro deste ano para incentivar o setor. O NIB oferece subsídios, empréstimos com juros reduzidos e ampliação de investimentos federais, além de incentivos tributários e fundos especiais para estimular a indústria nacional.

A maior parte dos recursos, R$ 300 bilhões, virá por meio de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Os financiamentos do BNDES destinados à inovação serão corrigidos pela Taxa Referencial (TR), que é mais baixa que a Taxa de Longo Prazo (TLP).

“O grande desafio do mundo será sustentabilidade: como podemos produzir bem, barato e compensando as emissões de gases de efeito estufa. Temos tudo para avançar na questão da indústria verde e da descarbonização”, disse Alckmin. “O Brasil é o grande protagonista dos três grandes debates planetários: segurança alimentar, segurança energética e clima.”

Por fim, o ministro defendeu o diálogo com o setor industrial e disse estar aberto a críticas. “Democracia fortalece investimento. Democracia significa regra estável, segurança jurídica e diálogo. Quem ouve mais, erra menos”, afirmou.

Fiesp elogia programa do governo
Ao lado de Alckmin, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, reiterou elogios que já haviam sido feitos pela entidade ao programa de incentivo à indústria. Segundo o empresário, o plano foi “criticado injustamente”.

“O programa demonstra o reconhecimento do governo federal da importância da indústria de transformação. O plano, se é que merece alguma crítica, é por ser um plano modesto. Não é o plano final. É o primeiro passo de apoio à indústria”, afirmou Josué.

“É um plano que não envolve qualquer subsídio, exceto para a área de inovação. As críticas que foram feitas não são apenas injustas, mas inadequadas. É preciso que a sociedade brasileira entenda e aplauda esse plano, que é um primeiro passo para a recuperação da indústria nacional, que se soma à reforma tributária”, prosseguiu.

O presidente da Fiesp também fez questão de demonstrar otimismo com a recuperação da indústria brasileira, há décadas estagnada. “Com a normalização das contas públicas, a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, não tenho dúvida de que alcançaremos uma taxa de juros capaz de permitir que a indústria de transformação recobre o seu vigor e volte a crescer, puxando o PIB nacional. Ela é fator fundamental do desenvolvimento nacional. Foi assim durante o período em que o Brasil mais cresceu em sua história”, disse.

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