Endividamento atinge 67% das famílias em setembro; veja como quitar suas dívidas

Vinicius Lobato
Por Vinicius Lobato
12 Min Read

Após bater o recorde em dez anos ao registrar 67,5% no mês de agosto, o percentual de famílias endividadas recuou para 67,2% em setembro, como aponta pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada na última terça-feira, 30. Na comparação com agosto, a inadimplência também deu sinais positivos. No oitavo mês do ano, a quantidade de famílias endividadas com débitos atrasados ficou em 26,7%, já em setembro o índice caiu para 26,5%. “Antes da pandemia, as famílias viviam em piloto automático. O dinheiro entrava, as contas eram pagas e o restante era usado para consumir e até mesmo adquirir determinados confortos. Muitas pessoas que levavam suas rotinas neste ritmo, vivendo um dia após o outro sem constituir reservas de emergência, foram pegas desprevenidas pela crise e essa foi a porta de entrada para o endividamento. É preciso lembrar que, de um dia para o outro, a renda do pessoal mudou completamente por consequência do novo coronavírus e da paralisação das atividades, com baixa nas vendas do comércio, suspensão de comissões, achatamento de salários, demissões e, inclusive, muitos microempreendedores tiveram também que fechar as portas”, explica a educadora financeira Carol Stange. 

Neste mês, a leve melhora registrada deve-se à retomada das atividades do comércio e ao benefício do auxílio emergencial, uma vez que ocorreu com maior intensidade entre grupos de faixas de renda específicos. Segundo o levantamento, entre as famílias com receita de até dez salários mínimos, o percentual de endividamento caiu pela primeira vez desde maio, atingindo 69% do total — em agosto, alcançou o recorde de 69,5%. No entanto, as famílias com renda acima de dez salários mínimos registraram o primeiro aumento no endividamento desde abril, de 57,8% em agosto para 59% em setembro. Ainda de acordo com a CNC, a retomada das atividades do comércio fez com que o grupo de arrecadação mais elevada intensificasse os gastos e, consequentemente, elevasse o nível de endividamento. 

A entidade aponta o cartão de crédito como principal modalidade de dívida lembrada pelas famílias em setembro, com 79% do total das respostas dos entrevistados, seguido pelos carnês, com 16,7% e financiamento de carro, 10,3%. Carlos Terceiro, CEO da startup de gestão e finanças pessoais Mobillis, destaca que o principal motivo que leva ao endividamento é a falta de preparo frente às despesas. “Não é raro que as pessoas adquiram um cartão de crédito, uma das dívidas mais caras que existem, sem, ao menos, saber a taxa dele. Outras pedem empréstimos com juros altos para quitar contas mais baratas. A maior parte delas nem anota os gastos mensais, permanecem no ‘achismo’ com relação às próprias dívidas. Todos estes fatores dificultam o planejamento financeiro.”  Apesar do percentual de famílias endividadas em setembro ter sofrido a primeira queda na comparação ante ao mês imediatamente anterior desde maio, apresentando uma suave recuperação, o número permanece elevado e preocupante. Sendo assim, para auxiliar na organização das despesas, Carol Stange e Carlos Terceiro revelam os passos para quitar as dívidas, sair do vermelho e recolocar, de uma vez por todas, os gastos nos trilhos.  

Passo 1: mapeamento da vida financeira
O primeiro passo para tomar o controle da vida financeira é mapeá-la e traçar um diagnóstico da atual situação, anotando todos os ganhos e despesas, ou seja, o fluxo de caixa, em um aplicativo, caderno ou planilha. Muitas vezes, a visualização é o ponto chave para a reordenação das contas. “Existem muitas pessoas que sofrem da doença do buraco negro das finanças, ou seja, gastam bem menos do que recebem com as contas essenciais e, mesmo assim, todo o dinheiro some no final do mês. Por isso, antes de tudo, é preciso conhecer seus números”, afirma Carol Stange. “Essa é a parte chata, mas necessária”, diz a educadora financeira. Segundo ela, de maneira prática, o indivíduo precisa anotar todos os gastos – desde as despesas com a casa até as saídas para almoço ou jantar, para não apenas tomar conhecimento sobre o destino final do dinheiro, mas também perceber os próprios hábitos de consumo. “Registrando os gastos, a pessoa acaba sabendo quais são os momentos em que está mais propensa a gastar e, a partir disso, se policiar. Por exemplo, ela pode identificar que toda sexta-feira desembolsa uma boa quantia com o happy hour, ou todos os domingos efetua uma compra online. Quando se mapeia os comportamentos financeiros, fica mais fácil criar estratégias de controle para fugir destas armadilhas.”

Passo 2: eliminação e redução de despesas
Após criar um diagnóstico sobre a presente situação financeira, eliminar e reduzir despesas é o passo seguinte a ser dado. “Os cortes podem ser pontuais, efetuados sobre os gastos dos quais a pessoa nem sabia como eram efetuados, mas foram identificados na primeira etapa, por exemplo, uma grande quantidade de saídas a lazer ou compras online que, somadas, consomem uma boa fatia da renda. Já os gatos essenciais do cotidiano podem ser reduzidos por um período pré-determinado, até as contas se reequilibrarem”, afirma Stange.  Se a conta do planejamento financeiro não fechar mesmo com todas as reduções e eliminações, a educadora aponta a criação de renda extra como uma solução viável. “Temos o costume de enxergar a renda extra como uma atividade muito informal, mas não é assim que funciona. Muitos projetos, se bem estruturados, podem ser encarados como microempreendedorismo. Para além de ajudar no reequilíbrio das finanças durante o período crítico, existe a possibilidade da atividade extra se transformar na renda principal no futuro. Para isso, é preciso colocar a criatividade para trabalhar, olhar para seus próprios talentos e encontrar neles soluções que o mercado pode pedir.”

Passo 3: plano de ataque
“Não adianta pensar que todas as contas atrasadas serão pagas amanhã, é fundamental um planejamento a longo prazo e muita disciplina para seguir o plano montado”, diz Carlos Terceiro. Segundo ele, antes de partir para a quitação, é necessário listar todas as dívidas de acordo com o valor delas – as mais caras, com juros mais elevados, devem aparecer no topo da lista. Geralmente são as de cartão de crédito e cheque especial.  “Depois de elencar as contas, nós partimos para a negociação. A boa notícia é que, neste período da pandemia, as empresas estão muito abertas para negociar com ótimas condições. Por isso, para sair da inadimplência, é importante chegar ao melhor valor de desconto e, de fato, comprometer-se com o acordo firmado”, explica o sócio fundador da Mobillis. Caso as dívidas sejam muito altas, ao invés de aceitar propostas que não sejam vantajosas para o consumidor, uma opção é esperar pelo Feirão Serasa Limpa Nome ou pelos feirões de quitação de dívidas promovidos pelos próprios bancos. “Neste passo, entendemos a importância de anotar primeiramente os gastos, já que não dá para negociar os débitos sem ter noção sobre a real capacidade de pagamento”, reforça o sócio-fundador da Mobillis. 

Passo 4: reserva de emergência
Conseguindo implementar o planejamento financeiro e pagar as contas em atraso, montar a reserva de emergência deve ser a prioridade. O momento de reabertura das atividades do comércio e da recuperação da renda familiar é favorável para este tipo de investimento. “A reserva é responsável por garantir a segurança financeira caso aconteçam situações fora do previso, é um porto seguro. O dinheiro que está voltando para o caixa, seja através do restabelecimento dos salários, das comissões ou das vendas, deve ser prioritariamente direcionado para montar este estoque contra imprevistos”, afirma Terceiro.

Ele alerta que, apesar da ideia principal ser guardar o dinheiro, as famílias nunca devem juntá-lo embaixo do colchão. “Além de ser perigoso deixar uma grande quantia de renda em casa, o efeito da inflação faz com que a renda não aplicada perca valor, ou seja, é possível perder dinheiro. A ideia é montar a reserva em um investimento que tenha segurança e liquidez. Não importa que, com a taxa de juros baixa, o valor não tenha uma grande rentabilidade, porque o foco não é multiplicá-lo, mas mantê-lo seguro. Sendo assim, investir no Tesouro Selic, no CDB de bancos digitais ou na poupança podem ser boas alternativas”, conclui.

Como saber se o nome está sujo no Serasa, SPC e SCPC?
Atualmente, é possível consultar o CPF online para saber se o nome está sujo, já que as três principais bases de dados usadas para registrar inadimplentes disponibilizam acesso via internet. As consultas à plataforma gerida pela Serasa Experian e o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) podem ser realizadas gratuitamente. O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), por sua vez, cobra uma taxa para utilizá-lo. Confira, a seguir, formas de descobrir se o seu nome está sujo.

  • Serasa: A Serasa Experian disponibiliza consulta gratuita de CPF através do portal Serasa Consumidor e do aplicativo. O usuário deve acessar a opção “Consultar dívidas”, efetuar um registro com seus dados pessoais e então clicar no painel “Pendências” para ver as informações.
  • SCPC: A consulta ao banco de dados da SCPC pode ser realizada de forma gratuita no site Consumidor Positivo, que também tem sua versão em aplicativo para celular. Após se cadastrar na plataforma, o usuário deve se dirigir ao box “Dívidas” para saber a quantidade de pendências no nome.
  • SPC Brasil: O serviço Online da SPC Brasil requer o pagamento de uma taxa de R$ 9,90 para efetuar a consulta. O atendimento é oferecido via aplicativo ou site. A consulta dá direito a visualizar informações mais completas que ultrapassam o registro de inadimplência e de protestos e cheques devolvidos.
Compartilhe esse Artigo