Governo vai comprar pescado, mel e frutas de produtores afetados por tarifaço, mas deixa café e carne fora de lista

Andrei Smirnov
Por Andrei Smirnov
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O recente anúncio sobre a ampliação das compras públicas de alimentos despertou grande expectativa entre agricultores familiares e cooperativas de diferentes regiões do país. A medida busca amenizar os impactos sofridos pelos produtores devido ao aumento de custos e às dificuldades de comercialização que se intensificaram nos últimos meses. Entre os itens contemplados, destacam-se o pescado, o mel e algumas frutas, produtos que têm grande relevância econômica para diversas comunidades, principalmente em áreas rurais que dependem fortemente dessas cadeias produtivas.

Apesar da iniciativa representar um alívio para parte dos trabalhadores do campo, o fato de setores tradicionais como o café e a carne ficarem de fora da lista gerou questionamentos. Esses segmentos também enfrentam desafios severos diante das oscilações de preços, da pressão tributária e da perda de competitividade no mercado interno e externo. Muitos produtores relatam que, sem esse tipo de suporte, correm o risco de reduzir sua produção, o que pode afetar diretamente o abastecimento e a geração de empregos em regiões onde essas culturas são predominantes.

O modelo de aquisição simplificada definido pelo governo tem como objetivo principal acelerar o processo de compra, garantindo que estados e municípios possam adquirir os alimentos de maneira mais ágil. Esse tipo de política pública busca aproximar os pequenos produtores do consumidor final por meio de programas institucionais, além de fortalecer a economia local. No entanto, a ausência de alguns produtos fundamentais pode limitar o alcance da medida e reduzir seu impacto em determinados setores do agronegócio.

Especialistas afirmam que, embora a decisão de priorizar algumas cadeias produtivas seja estratégica para atender emergências específicas, ela precisa ser constantemente revisada para não criar um desequilíbrio entre os diferentes segmentos agrícolas. A exclusão de produtos amplamente exportados, como o café, pode gerar efeitos indiretos na balança comercial e comprometer a confiança de produtores que aguardam políticas mais inclusivas e consistentes.

Outro ponto em debate é o impacto social que a medida terá nas comunidades mais vulneráveis. O incentivo à compra de mel, frutas e pescado pode contribuir para o fortalecimento da segurança alimentar, ampliando a oferta de alimentos frescos e diversificados em escolas, hospitais e outros equipamentos públicos. Porém, os trabalhadores do setor de carnes e do café alertam que a ausência de seus produtos no programa deixa milhares de famílias sem o suporte necessário para manter a sustentabilidade de suas atividades.

Além disso, muitos analistas destacam que a decisão pode afetar a imagem do governo perante cooperativas e associações de produtores que se sentem desassistidos. A expectativa era de que a lista contemplasse um leque maior de alimentos, considerando que os impactos do aumento de custos não se restringem a poucos setores. A escolha seletiva, embora traga benefícios imediatos a alguns, reforça a sensação de que ainda falta uma estratégia de longo prazo capaz de equilibrar a produção nacional e reduzir as desigualdades regionais.

Do ponto de vista econômico, a medida pode gerar resultados positivos para o mercado interno no curto prazo, especialmente em regiões onde a comercialização de pescado e frutas enfrenta gargalos logísticos. Contudo, a não inclusão de produtos estratégicos pode fazer com que parte dos produtores busque alternativas menos favoráveis, como a redução da área plantada ou até mesmo a desistência de atividades produtivas que não conseguem se manter competitivas sem apoio institucional.

A discussão em torno dessa decisão mostra a complexidade de formular políticas públicas para o setor agrícola. Embora o passo dado pelo governo seja relevante e tenha potencial de aliviar pressões imediatas, ainda há um longo caminho para que todas as cadeias produtivas recebam o suporte necessário. O desafio será equilibrar as demandas regionais, atender às necessidades sociais e, ao mesmo tempo, preservar a competitividade do agronegócio brasileiro em um cenário de forte concorrência global.

Autor : Andrei Smirnov

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